“Ás vezes, ele se perguntava o que era pior: o fato de a pessoa amada ser outra com outro ou exatamente aquela com quem se partilha uma intimidade. Ou então as duas situações eram igualmente ruins? Pelo fato de que, de uma maneira ou de outra, alguma coisa é roubada – algo que nos pertence ou algo que deveria nos pertencer?”
O Outro
Após a morte da esposa, Bengt tenta se acostumar à vida solitária, desenvolvendo novos hábitos. A rotina é até reconfortante em certos aspectos: manter a casa limpa, se alimentar, verificar o correio. E justamente algo tão corriqueiro quanto buscar a correspondência será capaz de mudar sua vida para sempre.
A carta parece ser de um amigo desavisado, que não recebeu o convite do funeral. Já ensaiando o comunicado do falecimento, Bengt abre o envelope: uma caligrafia trabalhada, assinatura de um homem, palavras de amor para Lisa, sua falecida mulher.
Será que durante todo o tempo em que foram casados, Lisa tinha um amante? Como ele nunca desconfiou? Bengt percebe que talvez os fatos não sejam o que parecem. Determinado a descobrir a verdade e a não deixar que esse incidente destrua a memória da esposa, ele começa a se corresponder com o estranho usando o nome dela.
A cada nova carta, ele se surpreende com detalhes sobre a personalidade de Lisa que negligenciou durante muitos anos. Sua generosidade, o quanto foi feliz e fez os outros rirem. As cartas do Outro são seu maior consolo, e conforme percebe o quanto têm em comum, Bengt não resiste à tentação de conhecê-lo. Quem seria o homem que sua esposa um dia amou? Quem, ou qual deles, seria o Outro?